“Da lama ao caos”: a história do álbum que imortalizou Nação Zumbi
Lançado em 1994, o disco que renovou o circuito musical é um dos mais importantes da banda
Em um cenário em que produções musicais fora do eixo Rio-São Paulo não tinham espaço, dois agitadores culturais decidiram começar algo novo. Fred 04 (vocalista da banda Mundo Livre S/A) e Chico Science, dois músicos recifenses, criaram algo diferente e pioneiro no início da década de 90, em que a música nordestina era resumida nos grandes clássicos de Luiz Gonzaga e outros sucessos que vinham sobretudo do sertão nordestino. Em 1º de junho de 1991, em Olinda, a festa Black Planet marcou a primeira apresentação da banda Nação Zumbi, criada a partir da união dos grupos Lamento Negro (samba-reggae) e Loustal (rock punk). Esse evento marcou não apenas a união da banda como o início de um novo ritmo: o manguebeat.
Nessa ocasião, Chico Science, ainda desconhecido, lançou um manifesto que anunciava a nova expressão cultural. “O ritmo chama-se mangue. É uma mistura de samba-reggae, rap, raggamuffin e embolada. É nossa responsabilidade resgatar os ritmos da região e incrementá-los junto com a visão mundial que se tem… Eu fui além”, disse Science em seu discurso. A ideia era propor um novo movimento, uma música nordestina que contasse da realidade urbana em transformação e sob influência de diversos ritmos e expressões dos anos 1980, como o rap e o rock, em fusão aos ritmos regionais.
O álbum “Da lama ao caos” nasce nesse contexto e dessa união: criar um novo ritmo, revelando um outro nordeste e uma nova realidade. Lançado em abril de 1994, a obra mescla maracatu, coco, heavy metal, punk rock, dub e rap. Das 14 músicas que compõem o disco, as mais conhecidas são “Rios, pontes e overdrives”, “Da lama ao caos”, “A praieira” e “A cidade”. Além disso, o álbum abre com um manifesto, a música “Monólogo ao pé do ouvido”, que fala sobre a proposta do movimento manguebeat e
A crítica social está presente ao longo de todo o trabalho, que trouxe temas sociais importantes, tocando assuntos delicados e negligenciados. Com isso, o álbum lançou nacionalmente o grupo e consolidou Recife como pólo de inovação e produção cultural. “Da lama ao caos” influenciou artistas e segue sendo referência da música brasileira, tanto pelo trabalho técnico como social. A obra é considerada grande marco da cultura brasileira especialmente por apresentar uma moderna música nordestina para o restante do país.
Após uma edição inédita em Recife, o Festival Clássicos do Brasil traz para o Rio de Janeiro a banda pernambucana apresentando o show completo “Da lama ao caos”, parte de turnê especial em comemoração aos 30 anos do álbum. Nação Zumbi, formada atualmente por Jorge Du Peixe (vocal), Dengue (baixo), Toca Ogan (percussão), Marcos Matias (alfaia e percussão), Da Lua (tambores), Tom Rocha (bateria) e Neilton Carvalho (guitarra), estará no palco do festival no dia 11 de outubro, sábado.